Acorda Amor

"Acorda Amor", uma canção tocante do icônico Chico Buarque, é um grito rebelde e disfarçado contra a opressão e a tirania. Lançada em 1974, durante os "anos de chumbo" da ditadura militar no Brasil, esta música não é apenas uma melodia, mas uma metáfora audaciosa que ilustra as sombras lançadas pelo fascismo sobre o país. As letras habilmente criptografadas e as imagens vívidas da canção conduzem o ouvinte em uma viagem emocional, revelando a realidade sombria da época.

No primeiro parágrafo da letra, Chico ilustra a sensação palpável de medo permeada pela presença de um estado autoritário: "Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que aflição / Era a dura, numa muito escura viatura". A expressão "gente lá fora" simboliza as forças repressivas, sempre prontas para irromper e reprimir aqueles rotulados como "inimigos do estado". A "dura", um jargão da época para a polícia, e a "muito escura viatura" representam de forma simbólica a natureza ameaçadora e opressora do regime militar.

No segundo parágrafo, o pesadelo se materializa: "Não é mais pesadelo nada / Tem gente já no vão de escada / Fazendo confusão, que aflição / São os homens". Aqui, a ameaça da perseguição se torna tangível, evidenciando a tensão permanente enfrentada por aqueles que desafiaram o regime. A exortação ao ladrão, que se repete em ambos os parágrafos, pode ser interpretada como um ato de subversão. O "ladrão" passa a representar a lei e a justiça, e chamar por ele significa clamar por justiça em um ambiente saturado pela opressão estatal.

Assim, "Acorda Amor" não é apenas uma música: é um retrato pungente do fascismo brasileiro, particularmente no contexto da ditadura militar. Com seu uso criativo de linguagem poética e simbólica, a canção desvela e condena a realidade de medo e repressão experimentada por muitos brasileiros durante aquele período. Através da arte, Chico Buarque forneceu um testemunho eloquente da resistência contra o fascismo, capturando as angústias e esperanças de uma nação.